NÉVIO DIAS: PAIXÃO MARCA TRAJETÓRIA DE VIDA DO DIRETOR DE TEATRO PDF Imprimir E-mail
O teatro de São Carlos sofreu, na última segunda-feira (29), uma perda irreparável com a morte de Névio Dias.

Nascido em São Caetano do Sul, ele veio para São Carlos em 1953 para trabalhar na secretaria da Escola de Engenharia da USP e mudou a história do teatro amador. Radicado na cidade, o futuro diretor se filiou a um grupo e, a partir daí, fomentou e criou outros grupos; o movimento que existia até então era tímido, tornou-se ativo contando com 11 grupos, todos liderados e incentivados por Névio. “Ele quebrou o teatro antigo” diz Almir Martins de Oliveira, Assessor Cultural da Prefeitura de São Carlos.

Em 1965 foi o primeiro presidente da Federação do Teatro Amador do Centro do Estado São Paulo (Fetac) e, em 1966, tornou São Carlos a sede do festival de teatro daquele ano, o que obrigou as autoridades locais a concluírem o primeiro Teatro Municipal de São Carlos. “Não acreditando na ação natural da administração, ele procurou o prefeito e exigiu a criação do teatro” esclarece Angelo Bonicelli, amigo, ator e diretor do Teatro Municipal de São Carlos, Dr. Alderico Vieira Perdigão, por 22 anos e presidente da FETAC – Federação de Teatro Amador por três gestões.

O trabalho de Névio Dias fez com que o movimento de teatro amador de São Carlos estivesse entre os mais importantes do país nas décadas de 1960 e 1970 pelo dinamismo e pela vanguarda que caracterizava os grupos que já interpretavam peças utilizando técnicas e autores ainda desconhecidos no Brasil. “Havia a preocupação em propor algo novo, era um teatro de vanguarda trazido por Névio” diz Getúlio Alho, amigo, ator e diretor do teatro Municipal de 1991 a 1997.

A queda do teatro, que aconteceu por volta de 1976, se deu por conta de interesses políticos que viam o teatro como um canal de manipulação e divulgação de ideias que não faziam parte da proposta dos grupos.

Autodidata, Névio Dias foi a pessoa que dividiu águas e marcou o teatro de São Carlos, passado o período em que alavancou os grupos são-carlenses (alguns perduram até hoje), o diretor de teatro iniciou os registros da história cultural da cidade e região. “O amor pelo interior de São Carlos era uma característica forte de sua personalidade. Quando viajávamos com Névio, ele descrevia cada parte do caminho contando sua história” emociona-se Angelo. O diretor poderia ser considerado um documentarista da história cultural do interior “Ele passou a ser um repórter documental do teatro de São Carlos e região” falou José Carlos, amigo de Névio.

Névio Dias manteve-se ativo até o fim e estava trabalhando junto com Getúlio Alho em um novo livro que aborda os filmes do cinema nacional e o faroeste caboclo e já está concluído, porém ainda não foi lançado.

O rico legado de Névio Dias é algo que transcende seus 87 anos e ficará para a história da cidade e para as próximas gerações, perpetuando um trabalho caracterizado pelo amor, dedicação e vocação à arte do teatro. “Fiquei encantado quando conheci Névio Dias, ao verificar o vigor, lucidez e paixão pelo teatro. Ele dedicou a vida toda ao teatro de São Carlos e do Brasil” emociona-se Almir.

Homenagem e obras literárias
Na reinauguração do Teatro Municipal de São Carlos, em 2008, Névio Dias foi homenageado por Ariano Suassuna. O autor relembrou a boa impressão que lhe causou uma atuação do grupo são-carlense na década de 1970 da peça “O Auto da Compadecida” liderada pelo diretor e interpretada em Pernambuco e que foi apresentada novamente por uma nova geração de atores na reinauguração do teatro em 2008.

Névio também deixou parte de seus registros em livro, o primeiro foi lançado em 2009 com o título “Teatro amador em São Carlos” trata-se de um livro-memória que reúne material sobre o movimento de teatro amador de São Carlos, focando principalmente o período entre 1965 e 1970. O trabalho destaca, através de fotografias e relatos, a importância das federações teatrais criadas na década de 1960, a participação do autor na conclusão das obras do Teatro Municipal de São Carlos, em 1966, e a atividade de instituições como o Sesc e a Comissão Estadual de Teatro (CET) no fomento das artes cênicas no Estado de São Paulo. Outro livro escrito por Névio foi "Genésio Arruda, um caipira da Vila Nery e o cinema sonoro" escrito em parceria do pesquisador Marco Bala, este lançado em 2010.

(02/12/2010)